Quiçá com medo de ver expostas algumas habilidades e situações pouco transparentes que marcaram negativamente o mandato do executivo camarário, Sérgio Humberto escondeu-se bem escondidinho por trás de um comunicado surreal (já lá irei), publicado na passada Quinta-feira e assinado pela coligação Unidos pela Trofa, para se esquivar a um debate com os seus adversários na corrida autárquica. Era o que mais faltava, correr o risco de ser confrontado com questões como:
-
Como justifica os quase 100 mil euros "transferidos" dos cofres públicos para ex-proprietários/colaboradores do jornal criado pela vossa coligação, via ajuste directo?
-
Como justifica a violação da liberdade de imprensa do jornal O Notícias da Trofa, no caso da apresentação pública do Muro, sendo Portugal uma democracia que consagra constitucionalmente a liberdade de imprensa?
-
Como justifica as insinuações que fez sobre o mesmo órgão de comunicação social, sobre alegados 500 mil euros recebidos do anterior executivo, caso que fez com se visse forçado a retractar-se em tribunal, de onde saiu com o rabinho entre as pernas?
-
Como justifica os insultos proferidos na Assembleia Municipal, quando afirmou que “Também a população da Trofa não é enganada por jornais locais que a única verdade que lá vem é a data. Se fosse hoje, era 27 de Fevereiro de 2015. É a única verdade que lá está”, quando o senhor já foi apanhado a mentir à população, por mais do que uma vez? Quando o senhor participou na criação do Correio da Trofa, que faz vista grossa às mais elementares regras do jornalismo, onde o director pode simultaneamente ser assessor do seu partido, a cujos funcionários o seu executivo entregou dezenas de milhares de euros de dinheiros públicos e onde, à excepção das páginas do desporto, toda a publicação se resume praticamente a glorificar o trabalho do seu executivo?
-
Como justifica que uma associação possa ser perseguida pela autarquia sob a justificação de “ter elementos que colocam em causa a gestão autárquica”? Não acredita na liberdade de expressão, caro Sérgio Humberto? Tem a certeza que milita no partido certo?
-
Como justifica que dinheiro dos cofres públicos seja usado para promover a sua imagem e para financiar indirectamente a sua campanha eleitoral?
-
Qual é a ligação da sua equipa à página Trofa Digital, que partilha conteúdos iguais e em simultâneo com a página da autarquia, que apela directamente ao voto na sua pessoa e que engana os trofenses de inúmeras formas, com o caso da publicidade que a Vodafone nunca lá fez à cabeça?
-
Porque é que fez um ajuste directo para publicidade com o Canal (Rádio) 5, antigo empregador do dono e fundador da Trofa Digital, para publicidade ao Parque das Azenhas quando a obra estava parada e oficialmente fechada ao publico?
-
Porque é que aumentou em quase 300%, face a 2016 (600% face a 2015) o orçamento disponível para o passeio anual sénior em ano de eleições, pagando, pela primeira vez, almoço e convívio aos idosos trofenses a poucas semanas das eleições? Acha correcto usar idosos e dinheiros públicos para fazer campanha?
-
Como justifica o aumento generalizado dos impostos cobrados pela autarquia durante o seu mandato?
-
Considera correcto que a viatura oficial da autarquia seja por si usada a titulo pessoal, nomeadamente para deslocação a Lisboa para o conselho nacional do seu partido, que nada tem que ver com a Trofa, imputando esse custo aos trofenses?
-
Porque enganou os trofenses quando afirmou que a Ponte da Peça Má não seria demolida sem que a população fosse ouvida e sem que o plano apresentado pelo comendador Eurico Ferreira fosse avaliado, falando mesmo na possibilidade de um referendo, para depois fazer exactamente o contrário do que prometeu? Tem coragem de assumir, aqui e agora, que foi desonesto com os seus munícipes?
-
Porque enganou os trofenses quando afirmou, em plena Assembleia Municipal, que a inauguração da obra dos parques custou 70 mil euros, quando o valor total se cifrou nos 120 mil euros, algo que pode ser facilmente comprovado pelos dois ajustes directos que são públicos? Já agora, porque fez dois ajustes directos para a mesma coisa? Para evitar abrir um concurso público e poder entregar o serviço a quem lhe interessava entregar?
-
Porque é que inaugurou a obra da Alameda sem que a mesma tivesse concluída, para poucos dias depois dar início à sua pré-campanha? Para beneficiar de um gigantesco comício político pago pelos cofres públicos?
-
Porque se recusa a responder às perguntas mais delicadas que lhe são colocadas pelos seus munícipes, como foi o caso de Joaquim Azevedo na Assembleia Municipal de Fevereiro de 2017? Por cobardia? Por vergonha?
-
Porque iludiu os trofenses com aquele embuste do metro, que culminou na tal apresentação pública onde violou a liberdade de imprensa d’O Notícias da Trofa?
-
Porque não explica aos trofenses que a oferta dos livros escolares, dos quais se anda a aproveitar para fazer campanha nas escolas, foram oferecidos pelo governo central e não pelo seu executivo?
-
Porque é que gastou centenas de milhares de euros em publicidade, não raras vezes através de negócios por ajuste directo pouco transparentes, e não conseguiu, em quatro anos, ter uma verba para requalificar o Castro de Alvarelhos?
-
Onde está a travessia do Rio Ave que constava no programa eleitoral de 2013?
-
Onde está a rotunda na Carriça que constava no programa eleitoral de 2013?
Aqui ficam 20 perguntas, podiam ser mais, que, estou certo, fariam engasgar o edil. Ele conhece os temas, sabe que não tem resposta que não o enterre ainda mais, e sabe que, ver estes temas expostos num debate eleitoral, poderia custar-lhe muitos votos. Porque é difícil explicar aos cidadãos porque é que há dinheiro dos nossos impostos a fluir para a sua campanha eleitoral ou para a promoção da sua imagem. Não é algo fácil de aceitar, pelo menos para as pessoas honestas e decentes. Como não é fácil explicar a violação de liberdades fundamentais ou as mais variadas mentiras proferidas ao longo destes quatro anos. Mais fácil é fazer-se de morto e resumir a campanha eleitoral a churrascos, balões, bugigangas variadas e propaganda barata.
Mas a parte surreal, a parte que enterra, até ao pescoço, a coligação Unidos pela Trofa e o candidato Sérgio Humberto, vem numa bandeja e ilustra um estranho nervosismo que não se compreende, principalmente vindo de quem parece ter as eleições ganhas. Um enterro que passou no filtro da agência de comunicação que faz assessoria à coligação e dos estrategas dos partidos que comandam a máquina de propaganda. Um erro que, simultaneamente, me surpreende e entristece, quando vejo jovens militantes do partido que são incapazes de questionar o que se passa e não conseguem ver para lá da bandeira ou da perspetiva do tacho no horizonte. Jovens que baixam a cabeça perante a utilização de recursos públicos por parte dos caciques do partido, pactuando com a violação de liberdades fundamentais com o seu silêncio. É mesmo muito triste.
Onde está, então, o enterro da coligação? Simples: a coligação – aliás, quem manda na coligação, que decisões destas são tomadas por um punhado de pessoas que mandam nas outras todas – decidiu garantir que o candidato Sérgio Humberto seria mantido numa redoma de vidro. Vai daí emite um comunicado, dizendo cobras e lagartos da Trofa TV/O Notícias da Trofa, fazendo acusações que não se digna a provar, atingindo níveis de demagogia e populismo bizarros (dizer, por exemplo, que o NT/Trofa TV demonstrou falta de isenção relativamente à CM da Trofa é tão absurdo que só com uma tremenda falta de seriedade se escreve uma coisa destas para manipular emocionalmente os trofenses).
Mas, se o NT/Trofa TV tem esse histórico de falta de isenção, se se portou assim tão mal com a coligação, por motivos que só a coligação saberá, e que por algum motivo não tem coragem de partilhar, porque é que os candidatos às juntas pela coligação, sem excepção, deram entrevistas ao NT? Então o malvado jornal demonstra tanta falta de isenção relativamente ao líder da coligação e os seus candidatos às juntas de freguesia não estão alinhados com ele? Pactuam com essa "falta de isenção permanente" do NT/Trofa TV para com o seu presidente e, pior, para com a CM da Trofa? Que estranho! Será que precisavam da projecção mediática que tais entrevistas dão, e que certos pasquins não têm? É um bocado incoerente, não é? Já vi desculpas menos esfarrapadas para a cobardia política. Será que nos julgam assim tão parvos?
E por falar em pasquins, no comunicado que a malta que manda na coligação escreveu, pode ler-se que o candidato acobardado está disponível a debater se a organização estiver a cargo de outro órgão de comunicação social, “dado considerar que só assim é possível a discussão livre de ideias”. Referir-se-á a quem? Àquele “jornal” criado em 2013 com a participação de algumas das mesmas pessoas que escreveram este comunicado? Aquele que ocupou a sua sede de campanha após as eleições de 2013, se é que alguma vez de lá saiu? Aquele jornal que, durante meses, foi oficiosamente cancelado pela ERC por se encontrar em situação ilegal, como anexo em baixo comprova, bem como dado ao facto do seu director acumular funções com com as de assessor político do PSD Santo Tirso, o que também é ilegal? Aquele jornal a cujos ex-proprietários e ex-colaboradores o executivo Sérgio Humberto entregou quase 100 mil euros em ajustes directos pouco transparentes? Aquele jornal que se dedica em exclusivo a glorificar o executivo, ignorando a esmagadora maioria daquilo que se passa no nosso concelho, a menos que algum dos líderes do regime esteja por perto? É neste pasquim que é "possível a discussão livre de ideias"? É este o conceito de imprensa livre do executivo Sérgio Humberto? O tal que tinha dito que a ditadura acabou em 2013 mas que não se inibe de violar a liberdade de expressão do único jornal desta terra que cumpre as regras a que está sujeito, ao passo que pactua com um embuste jornalístico criado pela sua campanha de 2013?
Estará a coligação a gozar com a nossa cara?
Nota final: que pessoas mais alheadas destes temas, ou mesmo que aquela velha escola de fanáticos partidários não consiga ou não queira ver aquilo que se passa eu até compreendo. Mas perante os factos, que os jovens ligados à JSD e ao PSD e ao CDS-PP conhecem e percebem perfeitamente, porque são ou foram estudantes, instruídos e/ou mentalmente capacitados, choca-me a forma como estão dispostos a pactuar com estas sucessivas violações de liberdades fundamentais. Que importância terão os valores da democracia para estes jovens? Será que a liberdade de imprensa não tem valor para eles? Será que estão conscientemente dispostos a pactuar e a legitimar a manipulação da opinião pública para fazer fretes ao partido? Será que estão conscientemente dispostos a fechar os olhos à utilização de recursos públicos, por parte deste exceutivo, para fazer campanha eleitoral? Será que são compensados, pelo menos a lideranças das estruturas jovens, com vantagens decorrentes de vitórias eleitorais? Como é que eles aceitam isto? Não é à toa que surgem tipos como André Ventura no PSD. É um sinal dos tempos, triste e assustador. Um sinal dos tempos que coloca a democracia em xeque.
P.S: Estão a ver aquela imagem no topo desta publicação? Foi tirada em 2014. Porém, e porque a hipocrisia é tanta que já não se consegue disfarçar, à crítica não-fundamentada de uma apoiante da coligação, que acusa o NT de não ser isento desde 2009, a coligação responde com um "gosto". Mas também gostava de aparecer na fotografia em 2014, cinco anos depois do início da alegada falta de isenção. Enfim, é de ficar sem palavras.
PARECER DA ENTIDADE REGULADORA DA COMUNICAÇÃO SOCIAL SOBRE O JORNAL CORREIO DA TROFA
Comentários