O texto que se segue é da autoria de Vasco Flores Cruz.
Como tive já oportunidade de vos falar aqui, mais de 90% da área florestal do nosso concelho foi destruída e transformada em monoculturas de eucaliptos. Neste cenário alarmante, os animais e plantas característicos das nossas florestas e que ainda por cá existem estão confinados a menos de 10% da nossa área florestal. Acontece que alguns terrenos não ocupados por eucaliptos são tão estéreis como os eucaliptais, isto porque estão ocupados por plantas invasoras que dominam o solo e não permitem que a nossa flora autóctone se estabeleça. Não vou perder muito tempo a explicar o que são plantas invasoras, quais os impactos económicos e ambientais que causam e quais as leis que pretendem travar a sua disseminação, uma vez que vos deixo o link do projecto Invasoras, da Universidade de Coimbra, onde podem encontrar toda essa informação de forma sucinta e acessível.
Por norma, estas plantas têm pouco ou nenhum valor económico (algumas causam mesmo prejuízos) e a sua disseminação é, não raras vezes, resultado do abandono dos terrenos, associado à ocorrência regular de incêndios florestais. As consequências desta invasão silenciosa são óbvias: para além de muitas destas espécies degradarem as componentes abióticas (solo, lençóis freáticos, etc.) dos nossos ecossistemas, o espaço que ocupam seria fundamental para o estabelecimento da nossa biodiversidade. Desta maneira, à medida que as populações de plantas invasoras se desenvolvem, vão destruindo habitats nativos, contribuindo para a perda da diversidade biológica.
São muitas as espécies de plantas invasoras presentes nos anexos I e II do Decreto-Lei nº 565/99 que podemos encontrar no concelho da Trofa, algumas aparecem de forma dispersa, outras com populações bem estabelecidas e a causar impacto consideráveis. De salientar o impacto causado pelas várias espécies de acácias que ocupam já uma área igual ou superior à ocupada por floresta autóctone e cuja presença se verifica um pouco por todo concelho, e ainda o impacto causado pelos Penachos que rapidamente ocupam solos mexidos e cuja remoção é bastante complicada. E é também de certa forma alarmante o desenvolvimento da mancha de Háqueas na encosta poente do Monte de S. Gens. Esta espécie, cuja dispersão está intimamente ligada aos incêndios florestais, não tem qualquer valor económico, é de difícil remoção, não permite o estabelecimento da biodiversidade local e em caso de incêndio são uma verdadeira dor de cabeça. Formam bosquetes densos e impenetráveis de arbustos espinhosos que ardem com muita facilidade, e com o aumento da temperatura os frutos desta planta explodem, projectando as sementes para distâncias consideráveis, tornando o cenário extremamente complicado para os bombeiros.
O que podemos fazer para tentar contrariar esta situação?
Os proprietários florestais são quem tem mais responsabilidade nesta situação e são quem, primeiramente, deveria tomar medidas para a solucionar. Acontece que muitas parcelas pertencem a um elevado número de pessoas, outras a proprietários residentes no estrangeiro ou pessoas de idade avançada e não é por acaso que os terrenos ocupados por plantas invasoras estão geralmente “abandonados”.
Têm sido muitos os exemplos de campanhas de voluntariado que um pouco por todo o país têm mobilizado cidadãos para contribuir para a solução deste problema, e parece-me também que seria uma boa solução para o nosso concelho. Da união de vontades da autarquia, do movimento associativo ambiental e dos proprietários florestais, poderia surgir uma campanha de erradicação de invasoras que, com baixos custos, iria contribuir para a resolução do problema ao mesmo tempo que promovia a sensibilização para a conservação da natureza e para a cidadania.
Por outro lado, penso que deveríamos exigir à autarquia um olhar atento sobre este problema e acima de tudo que seja um exemplo. Pois as árvores situadas em parques ou jardins públicos estão protegidas e tornam-se focos de dispersão, sendo fundamental que não pertençam a espécies invasoras. E são alguns os casos de plantas invasoras a servirem de ornamentais nos nossos espaços públicos. Temos, por exemplo, Acácias junto à Igreja de N. Sra. da Livração (Lantemil) ou no Parque de N. Sra. das Dores. Temos Robínias no Parque N. Sra. das Dores, na rua Camilo Castelo Branco e no… Parque das Azenhas. Numa gestão absolutamente danosa da vegetação ribeirinha feita durante a construção desse mesmo parque, foram cortadas dezenas de árvores autóctones e foram deixadas algumas invasoras, um bom e recente exemplo de como não se deve actuar.
Estavam familiarizados com este problema?
O que vos parece que devemos fazer?
Um Abraço,
Vasco
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